Do T2 à gruta do Ali Babá
TNT, 03.08.11
Bem sei que a crise é mais que muita e que muitas vezes temos de fazer sacrifícios que não faríamos noutros tempos mais abastados. Ainda assim, confesso que me baralha um bocado a ideia de um casal se separar e manter-se na mesma casa. E, claro que, não são propriamente palacetes com várias alas. São, na maioria, T1 ou T2 com arrecadação.
Conheço uma série de ex-casais – sem filhos - a viverem juntos em ex-casas, com ex-memórias, ex-chatices e ex-aventuras. Tudo muito civilizado – dizem eles – com novas relações a despontar e a presença dos ex no sofá da sala a alambazarem-se em Doritos frente à tv.
A meu ver, quando as pessoas se separam, deviam mesmo separar-se. Nem que fossem viver para um quartinho com serventia de cozinha e banho com águas correntes. Antes isso, do que chegar a casa e encontrar o imprestável de quem nos decidimos separar porque já não lhe podíamos olhar para as trombas.
Talvez seja antiquada, talvez não esteja bem a ver a crise em que nos encontramos, mas não bastará já a crise financeira? Temos de arranjar crises acrescidas para os tempos difíceis que se vivem?
Uma separação, embora sempre penosa, tem de ser literal. Separarmo-nos e mantermo-nos é como ir até à porta da gruta do Ali Babá e não entrar. Nunca se fica a conhecer os tesouros que estão para além daquilo que já conhecemos e que são provavelmente mais valiosos que as paredes do T2…
* ilustração de Roxy Lady